O tratamento
da síndrome de Tourette, assim como o tratamento de qualquer doença neuropsiquiátrica,
é uma incógnita. Quando tratamos um paciente com depressão, não sabemos de
antemão quem vai responder a qual antidepressivo. Temos diversos
antidepressivos no mercado, escolhemos o antidepressivo de acordo com o perfil
de sintomas do paciente e de seu funcionamento orgânico, mas nunca sabemos se o
paciente vai melhorar ou não. Ele pode ser um caso resistente, ele pode ter um
efeito adverso raro, pode não tolerar a medicação, enfim, nós damos o remédio
com a melhor expectativa, mas ela nem sempre se cumpre e algumas vezes
passam-se meses até acertar e tirar o paciente de um quadro depressivo. Do
mesmo modo, ocorre com a ST. Existem várias medicações e a resposta ocorre em
geral em 80 % dos casos, mas há um grupo, em que, ao contrário do que ocorre com a maioria, só
piora ou não melhora com os antipsicóticos, que são teoricamente os mais
eficazes. Por que isso ocorre? Não sabemos. Essa é uma das perguntas
importantes que temos que fazer e o ideal seria poder fazer uma pesquisa para
ter alguma resposta. Essas pessoas podem ser geneticamente diferentes por
exemplo. Mas a pesquisa genética no Brasil está cada vez mais complicada por
regulações do Governo.
Em
termos de medicamentos, não temos nada de novo. Cada novo antipsicótico que
chega ao mercado torna-se uma luz e uma sombra. Uma luz, pois reacende a
esperança de que novos sintomas possam melhorar em pacientes com esquizofrenia.
Uma sombra, pois temos medo de testar novos medicamentos
com os quais nós próprios não temos experiência e que por estarem há pouco
tempo no mercado mundial, podem ser alvo de descobertas desagradáveis, causando
efeitos adversos antes não vistos e , como já ocorreu com vários produtos,
terem de ser retirados do mercado. Assim, cabe ao médico discutir com o
paciente os riscos e potenciais benefícios de testar uma medicação para os
tiques. Isso é especialmente importante, pois não existe indicação em bula para
tratamento de síndrome de Tourette. Todas as medicações que aliviam tiques são
produtos desenvolvidos para outras patologias, mas que, por seu mecanismo de ação,
aliviam os tiques. É o caso dos antipsicóticos (usados para psicoses,
depressões graves, transtorno bipolar, entre outras patologias),
anticonvulsivantes, anti-hipertensivos. Todo tratamento para ST é “off-label”,
ou seja, fora de bula.
Dar
um medicamento novo e para o qual não existem muitos estudos (às vezes,
nenhum), pode ser arriscado, mas em medicina prevalece o raciocínio clínico,
que pesa riscos e benefícios e em conjunto com a necessidade do paciente, e seu
consentimento, muitas vezes manobras arriscadas são necessárias. No caso de
cirurgias e emergências médicas, esse raciocínio pode salvar vidas em questão
de minutos e isso é claro para qualquer pessoa. Já a escolha de medicamentos não
específicos para problemas crônicos pode suscitar dúvidas. Causa dúvidas em
muitos pacientes, que se sentem cobaias dos médicos. Por isso a comunicação
entre o médico e o paciente, e que todas as dúvidas sejam esclarecidas, é
fundamental. Os médicos sérios não fazem seus pacientes de cobaias. Pacientes
podem participar de estudos científicos em que drogas são testadas, mas eles
assinam um termo de consentimento concordando com os riscos da pesquisa e em
geral consideram que usufruem de benefícios, caso contrário não se submeteriam
a pesquisas. A verdade é que, apesar de toda a evolução da medicina, ainda
sabemos muito pouco sobre o cérebro. Os outros órgãos são muito mais fáceis. E
a ST não é uma doença neurológica como a doença de Parkinson, ou um “derrame”.
Na ST há uma mistura de fenômenos neurológicos, mentais, emocionais e
culturais.
Este
blá blá blá todo é para dizer que medicamentos não são desenvolvidos para
tiques e que a eterna pergunta dos pacientes: existe algo novo para Tourette? Pode
ser respondida assim: depende de até onde você está disposto a tentar.
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