sábado, 7 de setembro de 2013

O papel dos avós no tratamento de seus netos



Hoje resolvi escrever um pouco sobre as avós, mas as avós servem para ilustrar o fenômeno da acomodação familiar. Tenho ficada impressionada com alguns relatos de pacientes e seus familiares de como as avós são resistentes a participar do tratamento de seus netos. Tenho visto isso acontecer tanto na população do SUS (dou supervisão aos residentes de psiquiatria infantil na universidade) e no consultório particular, o que mostra que não é um fato que dependa de classe social.
Darei alguns exemplos:
1-    uma criança de 8 anos com TOC  que tem nojo de se limpar quando vai ao banheiro e cuja avó o limpa, apesar de nossos esforços e explicações de que limpá-lo fará com que ele nunca abra mãe do comportamento disfuncional e reforça o TOC.
2-    Uma menina de 12 anos com TOC que tem nojo de comida e pede que a avó lhe dê a comida na boca, como se ela fosse um bebê . Apesar do aconselhamento de psiquiatra e psicólogo e de pedidos expressos dos pais, avó continua a dar comida na boca da filha pois “na casa dela quem manda é ela”.
3-    Uma criança com Tourette de 10 anos que mora na casa da  avó com seus pais e que apesar de ser muito bem comportada na escola , em casa não obedece e apresenta um comportamento hiperativo e opositor. Como muito bem observado pelos pais, ela não tem THDA, pois o comportamento disfuncional ocorre somente em casa, onde a avó não coloca limites e desautoriza os pais, “pois na casa dela quem manda é ela”.
Todos os casos mostram uma dificuldade dos avós de se colocarem na posição de EDUCADORES. Quando os netos não moram na casa dos avós e estes são apenas visitados nos fins de semana ou férias, é normal que os avós sejam mais indulgentes, mimem seus netos e façam suas vontades. No entanto, quando eles têm problemas de comportamento, isso deveria ser revisto, pois pode colocar um trabalho terapêutico a perder. E, mais ainda, isso deve ser revisto quando os avôs residem com os netos ou convivem com eles diariamente, dando almoço ou jantar, pois nesse caso eles devem exercer uma função mais educativa e de co-terapeutas.
          A ACOMODAÇÃO FAMILIAR ocorre quando as pessoas que convivem com um paciente passam a fazer parte da doença do paciente, por exemplo, fazendo os rituais obsessivos, evitando que o paciente confronte seus medos e ansiedades e resista de fazer os rituais.
Fica o alerta aqui para que todos examinem se isso não está ocorrendo e pondo a perder um dispêndio de energia e recursos financeiros, muitas vezes sacrificados.   

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