Hoje
resolvi escrever um pouco sobre as avós, mas as avós servem para ilustrar o
fenômeno da acomodação familiar. Tenho ficada impressionada com alguns relatos
de pacientes e seus familiares de como as avós são resistentes a participar do
tratamento de seus netos. Tenho visto isso acontecer tanto na população do SUS
(dou supervisão aos residentes de psiquiatria infantil na universidade) e no
consultório particular, o que mostra que não é um fato que dependa de classe
social.
Darei
alguns exemplos:
1- uma criança de 8 anos com
TOC que tem nojo de se limpar quando vai
ao banheiro e cuja avó o limpa, apesar de nossos esforços e explicações de que
limpá-lo fará com que ele nunca abra mãe do comportamento disfuncional e
reforça o TOC.
2- Uma menina de 12 anos com
TOC que tem nojo de comida e pede que a avó lhe dê a comida na boca, como se
ela fosse um bebê . Apesar do aconselhamento de psiquiatra e psicólogo e de
pedidos expressos dos pais, avó continua a dar comida na boca da filha pois “na
casa dela quem manda é ela”.
3- Uma criança com Tourette de
10 anos que mora na casa da avó com seus
pais e que apesar de ser muito bem comportada na escola , em casa não obedece e
apresenta um comportamento hiperativo e opositor. Como muito bem observado
pelos pais, ela não tem THDA, pois o comportamento disfuncional ocorre somente
em casa, onde a avó não coloca limites e desautoriza os pais, “pois na casa
dela quem manda é ela”.
Todos
os casos mostram uma dificuldade dos avós de se colocarem na posição de EDUCADORES.
Quando os netos não moram na casa dos avós e estes são apenas visitados nos
fins de semana ou férias, é normal que os avós sejam mais indulgentes, mimem
seus netos e façam suas vontades. No entanto, quando eles têm problemas de
comportamento, isso deveria ser revisto, pois pode colocar um trabalho
terapêutico a perder. E, mais ainda, isso deve ser revisto quando os avôs
residem com os netos ou convivem com eles diariamente, dando almoço ou jantar,
pois nesse caso eles devem exercer uma função mais educativa e de co-terapeutas.
A
ACOMODAÇÃO FAMILIAR ocorre quando as pessoas que convivem com um paciente
passam a fazer parte da doença do paciente, por exemplo, fazendo os rituais
obsessivos, evitando que o paciente confronte seus medos e ansiedades e resista
de fazer os rituais.
Fica
o alerta aqui para que todos examinem se isso não está ocorrendo e pondo a
perder um dispêndio de energia e recursos financeiros, muitas vezes
sacrificados.
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