Introdução:
Tenho me surpreendido com a quantidade de pessoas
com Síndrome de Tourette (ST) que expressam desejo de se submeter à cirurgia
para aliviar os tiques. O termo cirurgia abarca diversos procedimentos, mas
quando os leigos se referem à cirurgia para a ST, em geral estão se referindo à
Estimulação Cerebral Profunda (ECP). Alguns relatos têm aparecido na mídia, em
particular o caso de um esportista que fez a cirurgia e relata estar muito bem.
Por um lado, é fantástico que haja uma solução para casos graves de ST que não
melhoraram com os medicamentos. Por outro lado, deve-se levar em conta que um
procedimento cirúrgico não é simples nem miraculoso. Até 2009, 39 pacientes
operados tinham sido relatados na literatura científica, dos quais 18 na
Itália. Vale salientar que os casos publicados em geral são operados em centros
de referência, nos quais se realizam pesquisas. Muitos casos no mundo inteiro
devem ter sido operados em centros particulares, sem que a comunidade
científica tenha tido conhecimento. Em 2011, o número de casos publicados tinha
subido para 63, dos quais 59 tinham tido
benefício moderado ou grande. Em 2012, uma revisão da literatura (Piedad et al,
2012) identificou 99 casos operados, mostrando que a cada ano o número de casos
operado dobra. No entanto, o número ainda é insignificante quando comparado com
o número de casos operados com distonia ou Parkinson.
A ECP tem sido usada
para o tratamento de tremores e distonia em adultos desde 1997. Mais de 50 mil
pacientes foram tratados, de modo que o procedimento é agora padrão para os
casos de tremor, Parkinson e distonias resistentes ao tratamento farmacológico.
A ECP nas distonias tem sido usada tanto em adultos como em crianças, embora
neste grupo a experiência seja mais limitada.
Pensando na importância do tema e na falta de
artigos em português sobre a ECP em Tourette, revisei a literatura científica
sobre o tema que comento a seguir, resumidamente e focando mais nos aspectos
psiquiátricos do que em detalhes técnicos sobre marca de eletrodos , parâmetros
de estimulação etc. Para esses detalhes, sugiro a leitura da excelente revisão de
Saleh et al (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3400493/#!po=27.9412)
.
Quero deixar claro que não sou contra a cirurgia. Ela é a salvação de muitas pessoas. Apenas alerto aqui que ela ainda é considerada experimental, pois a experiência com esse tratamento ainda é relativamente pequena. As opções de posicionamento de eletrodos são variadas e ainda não se sabe qual seria melhor e para qual caso. Muitas pesquisas ainda são necessárias para se determinar qual o melhor ponto de estimulação, qual a melhor frequência, se os eletrodos serão unilaterais ou bilaterais etc. Finalmente, nem todos os que se operam ficam livres de medicamentos. Ou seja, não é solução milagrosa ou definitiva. Abaixo resumo os estudos publicados.
Quero deixar claro que não sou contra a cirurgia. Ela é a salvação de muitas pessoas. Apenas alerto aqui que ela ainda é considerada experimental, pois a experiência com esse tratamento ainda é relativamente pequena. As opções de posicionamento de eletrodos são variadas e ainda não se sabe qual seria melhor e para qual caso. Muitas pesquisas ainda são necessárias para se determinar qual o melhor ponto de estimulação, qual a melhor frequência, se os eletrodos serão unilaterais ou bilaterais etc. Finalmente, nem todos os que se operam ficam livres de medicamentos. Ou seja, não é solução milagrosa ou definitiva. Abaixo resumo os estudos publicados.
Revisão
da Literatura:
Na base de dados PUBMED, de 1951 a julho de 2013,
encontramos 100 artigos quando pesquisamos os termos Tourette syndrome e Deep
Brain Stimulation. Desses, a minoria relata casos de ECP em ST, pois muitos são
revisões da literatura. O primeiro
artigo data de 2004, ou seja, são apenas 10 anos de literatura sobre o assunto,
a maioria relatos de casos. Daí depreende-se que o tema é novo e pouco
conhecido. Não à toa a ECP para ST é considerada experimental.
Os primeiros relatos de cirurgias cerebrais para ST
datam de 1955, com vários alvos como o lobo frontal (lobotomia pré-frontal e
leucotomia bimedial frontal), sistema límbico (leucotomia límbica e
cingulotomia anterior), tálamo e cerebelo (Temel & Visser-Vanderwalle, 2004).
Os resultados eram insatisfatórios e muitas vezes havia sequelas como distonias
ou hemiplegia. De 1960 a 2003 foram descritos 65 casos (21 relatos de casos e três
relatos em livros) de cirurgias ablativas para ST intratável.
Em 1999 começaram a usar a ECP em ST. Os alvos
testados até o momento foram o núcleo talâmico centromediano e substância
periventricular, globo pálido interno pósteroventral, globo pálido interno ventromedial, globo pálido externo, braço
anterior da cápsula interna e núcleo accumbens. Um único estudo avaliou a
estimulação do núcleo subtalâmico.
Estimulação
exclusivamente Talâmica
Doze estudos relataram estimulação exclusiva do
tálamo. De 1999 a 2004 houve três casos Holandeses publicados, com lesão
talâmica bilateral, com resultados satisfatórios (Visser-Vanderwalle et al,
2003). Em 2007 Bajwa et al relataram nos EUA um caso com boa resposta também
estimulando a parte medial do tálamo
–núcleo centromediano , substância periventricular, e núcleo ventro-oral
interno. Maciunas et al (2007) também nos EUA relatou grande melhora em 3 de 5
casos com estimulação talâmica bilateral. Posteriormente, na Itália em 2008,
mais 18 casos estimulados nesse mesmo ponto foram publicado por Servello et al,
com boa resposta. No Japão, três casos tratados com ECP bilateral do complexo
centromediano parafascicular (Ce-Pf) do tálamo ventral foram relatados com
sucesso (Kaido et al, 2011). Lee et al, na china (2011) também relataram um
caso com sucesso. Três outros casos americanos com a mesma técnica foram
relatados por Savica et al (2012) com redução de 70% dos tiques. Mais oito casos
foram relatados por Idris et al, 2010 (um caso), Ackermans et al, 2011 (6
casos) e Rzesnitzec et al, 2011 (um caso).
Um caso recebeu estimulação do núcleo talâmico dorsomedial
e lamela medial (Vernaleken et al, 2009).
Os estudos acima totalizam 43 pacientes adultos operados
(37 homens), que tinham em média 22 anos de evolução da doença e 31 de idade (Saleh
et al, 2012). A média de melhora dos tiques foi de 58% de acordo com a escala
Yale Global Tic Severity Scale (YGTSS).
A maioria dos estudos relata procedimentos feitos
bilateralmente. Kuhn et al (2011) relataram os efeitos da estimulação talâmica
unilateral, mais especificamente no complexo dos núcleos intraoral anterior, posterior e interno (núcleos
ventral anterior e ventrolateral, de acordo com a classificação de Ilinsky e
Kultas-Ilinsky. Um dos casos foi operado do lado direito, o outro do lado esquerdo.
Os dois pacientes tiveram uma grande melhora, de 100% no primeiro caso e
100% nos tiques vocais e 75% dos tiques motores no segundo caso. Ambos
tiveram como efeito colateral um déficit na fluência verbal. Os autores alegam
que a estimulação unilateral pode produzir efeitos bilaterais.
Estimulação
exclusiva do Globo Pálido
Cinco estudos relataram estimulação do globo pálido
interno. Em 2005, Diederich et al relataram um caso, com 70% de redução dos
tiques. Shahed et al (2007) , nos EUA também relatou um caso de sucesso em um
adolescente de 16 anos, com 84% de melhora dos tiques e 69% de melhora dos SOC.
Dehring et al (2008) relataram um caso com excelente resposta. Um caso em um
rapaz com ST e retardo mental também foi relatado por Dueck et al (2009). Martínez-Fernández
et al (2011) relataram ter operado cinco pacientes. Dois pacientes foram
estimulados na região pósteroventral, dois outros na região ânteromedial e o
último na região pósterolateral, mas depois os eletrodos foram realocados para
a região ânteromedial . A resposta dos tiques foi modesta, com 54% e 37% de
melhora, respectivamente, para os dois grupos.
Cannon et al (2012), na Austrália, operaram 11 casos com estimulação da
parte interna do globo pálido ânteromedial bilateral. A melhora média foi de 50%. Somente dois
pacientes precisaram continuar a tomar medicamentos. Apenas um paciente não
tolerou a cirurgia e descontinuou o tratamento. Efeitos colaterais foram relatados
em 5 casos: problema no funcionamento do aparelho em três casos e extrema
ansiedade em dois casos.
Apenas dois estudos relataram estimulação do globo
pálido externo. O primeiro, Brasileiro, de 2007 (Vilela Filho et al), relatou estimulação
em um caso que apresentava redução de 81% dos tiques dois anos após a cirurgia
(bilateral). O outro, de Piedimonte et al (2013), na Argentina, em que
relataram um caso com sucesso na resposta da estimulação do globo pálido
externo mas que apresentou recaída após o esgotamento das baterias do
marcapasso.
Um último estudo não citou a localização do globo
pálido utilizada (Gallagher et al., 2006).
Os estudos acima totalizaram 13 pacientes operados,
dos quais 10 eram do sexo masculino. Para um dos estudos não se sabe o sexo do
paciente. A média de idade dos pacientes era de 30 anos e a de tempo de duração
da doença era de 23 anos. A melhora dos tiques foi em média 55% de acordo com a
YGTSS.
Estimulação
da Cápsula Interna/núcleo accumbens
Três estudos relataram estimulação simultânea da
cápsula interna e do núcleo accumbens (Kuhn et al, 2007; Neuner et al, 2009;
Burdick et al, 2010). Kuhn et al (2007) relataram um caso com melhora de 41%
dos tiques (YGTSS), Neuner et al (2009) relataram um caso com melhora de 44%
dos tiques e Burdick et al (2010) relataram um caso de piora dos tiques de
acordo com a YGTSS e falta de resposta do TOC em um caso com TOC grave e ST
leve.
Flaherty et al (2005), relataram um caso com ECP do
braço anterior da cápsula interna bilateral, com melhora dos tiques de 25%. No entanto, essa
paciente permaneceu com tiques de cabeça e os eletrodos mudaram de posição,
tendo sido a paciente operada novamente com os eletrodos colocados no núcleo
centromediano do tálamo, com melhor resposta, de 32% (Shields et al, 2008). Além da melhora nos tiques, o
procedimento anterior tinha levado a alterações de humor e de controle dos
impulsos, o que não ocorreu com o segundo procedimento.
Zabek et al (2008) relataram melhora de 82% dos
tiques em um caso com estimulação do núcleo accumbens direito.
Concluindo, os estudos de ECP nessa região são
escassos e inconsistentes, e os que apresentaram resultado positivo têm
resultados muito pouco expressivos, sugerindo que a estimulação nessa região
não é tão eficaz quanto a estimulação talâmica.
Estimulação
Múltipla: Talâmica e/ou do Globo Pálido e/ou do núcleo accumbens e cápsula
interna
Houeto et al (2005) relataram um caso tratado com
ECP bilateral de alta frequência no complexo centromediano parafascicular
(Ce-Pf) do tálamo ou a parte interna do globo pálido (GPi), ou ambos. A estimulação de quaisquer
pontos melhorou os tiques em 70% além de reduzir coprolalia e comportamentos
automutilatórios.
Ackermans et al (2006) relataram dois casos em ST
refratário. Um com estimulação talâmica bilateral (eletrodos implantados na parte medial do tálamo –núcleo
centromediano , substância periventricular, e núcleo ventro-oral interno . O
outro, com estimulação do pálido bilateral , com eletrodos implantados na parte
pósteroventral do globo pálido interno. Os dois casos com excelente redução de tiques, 85 e 92%, respectivamente.
Welter et al (2008) compararam a estimulação do
complexo centromediano-parafascicular (CM-Pf) bilateral do tálamo e a porção
ventromedial do globo pálido em três pacientes, em momentos diferentes e com
estimulação placebo. Encontraram boa resposta com os dois procedimentos, de 65%,
96%, e 74% com estimulação do globo pálido e de 64%, 30%, e 40%, com a
estimulação talâmica. Quando a estimulação foi simultânea, a redução dos tiques
foi semelhante (60%, 43%, 76%), mas piorava com a estimulação placebo.
Como já relatado, Shields et al (2008) relataram o
reposicionamento dos eletrodos de uma paciente que já havia perdido a visão em
um dos olhos devido a seus tiques e que respondera apenas parcialmente à ECP do
braço anterior da cápsula interna bilateral. Com os violentos tiques de
pescoço, os eletrodos foram danificados e trocados, optando-se por
posicioná-los nos núcleos talâmicos centromedianos, desta vez com melhor
resposta.
Servello et al (2009) reavaliaram os pacientes que
haviam operado anteriormente (Servello et al, 2008) e submeteram aqueles que não
haviam melhorado dos sintomas obsessivo-compulsivos com a estimulação do núcleo
centromediano parafascicularventral-oral a dois novos procedimentos: braço anterior da
cápsula interna mais do núcleo centromediano parafascicularventral-oral ou somente cápsula interna. Os dois casos
reoperados tiveram leve melhora dos sintomas obsessivos.
Finalmente, Martinez-Torres et al (2009) publicaram
um caso de melhora dos tiques em um paciente com 39 anos que tinha Parkinson e
tiques. Obtiveram melhora dos tiques com estimulação do núcleo subtalâmico, que
havia sido usada para tratar a doença de Parkinson.
Estudos
de Seguimento
Dois anos depois do procedimento talâmico relatado por Servello et al (2008), Porta et al (2009) publicaram os dados evolutivos de 15 dos 18 pacientes operados. A maioria, além de continuar com melhora dos tiques, tinha também melhorado de sintomas obsessivo-compulsivos, de ansiedade e de depressão. Novamente, em 2010 Servello et al (2010) relataram a evolução de 36 pacientes operados a partir de 2004, submetidos a 79 procedimentos (mais de um procedimento por paciente, dependendo da sintomatologia), dos quais 67 na área talâmica intralaminar/ventral oral, dois no globo pálido posterior e 10 no núcleo accumbens. Não está claro, mas deduz-se que esses 36 pacientes incluem os 18 inicialmente operados. Seis dos procedimentos no núcleo accumbens foram realizados devido à persistência de sintomas comportamentais (embora tiques tivessem melhorado) após procedimentos anteriores (dois talâmicos e um no globo pálido interno). Dois pacientes exigiram a retirada dos eletrodos e foram excluídos do acompanhamento de longo prazo. Todos os outros pacientes relataram melhora nas escalas de avaliação de tiques, sintomas obsessivos, depressão e integração social. Um relato de Porta et al (2012) descreve a evolução de 5 a 6 anos após o procedimento dos 18 pacientes inicialmente operados e relatados em Servello et al 2008. Os pacientes permaneciam com redução da gravidade dos tiques (52%) e com melhora significativa de sintomas obsessivos. Em geral os pacientes requeriam menos medicação para tiques.
Em 2010, Ackermans et al publicaram a evolução de
dois dos pacientes operados e relatados por Visser-Vanderwalle et al (2003)
após 6 e 10 anos de pós-operatório. Um
dos casos manteve a melhora de 90% dos tiques. O segundo caso teve um leve
decréscimo da melhora (que caiu de 92% para 78%) e desenvolveu um problema de
aprendizado e de fluência da fala, além de ter ficado mais agressivo e com
problemas de adaptação social.
Efeitos
colaterais/complicações da cirurgia:
As reações adversas podem ocorrer no período pós-operatório
imediato ou mais tardiamente. Muitos artigos não comentam sobre presença ou ausência
de complicações ou efeitos colaterais, e alguns são explícitos em dizer que não
os houve (Kaido et al, 2011; Visser-Vandewalle et al, 2003; Flaherty et al,
2005; Zabek et al, 2008; Dehning et al, 2008; Dueck et al, 2009; Vernaleken et
al, 2009; Vandewalle et al, 1999; Bajwa et al, 2007). No período pós-operatório foram descritos hematoma
ao redor do eletrodo (Diederich et al, 2005), humor depressivo, náusea, fadiga,
ansiedade (Dehning et al, 2008; Diederich et al, 2005; Dueck et al, 2009;
Martinez-Fernandes et al, 2011) , visão borrada e sensação de vertigem
transitórias (kaido et al, 2010; Servello et al, 2008). Flaherty et al (2005 )
relataram apatia, depressão e hipomania. Ackermans et al, 2006 relataram baixa
energia e baixa libido que persistia um ano após a cirurgia.
Efeitos colaterais tardios foram relatados: bradicinesia
na pronação e supinação das extremidades esquerdas causados por hemorragia do
lado cerebral direito (Diederich et al, 2005). Foram relatadas também redução
da libido, deterioração do humor (Visser-Vandewalle et al, 2003; Bajwa et al,
2007), desconforto abdominal, desvio do olhar para cima (Servello et al, 2008).
Ackermans et al (2011) relataram que em avaliação
cognitiva um ano depois da cirurgia (estimulação do núcleo centromedial,
substância periventricular e núcleo ventro-oral), os pacientes apresentavam
alteração na atenção seletiva e na inibição de resposta medida por teste
neuropsicológico. Outros eventos adversos sérios incluíram hemorragia ventral à
ponta do eletrodo, infecção do gerador de pulsos, distúrbio subjetivo do olhar
e redução de energia em todos os pacientes. Essa redução de energia pode ser em
parte responsável pela obesidade frequentemente reportada em pacientes
submetidos a esse procedimento para várias indicações.
Complicações infeciosas parecem ser mais frequentes
em pacientes com ST do que em outros transtornos do movimento, de acordo com
uma revisão feita por Servello et al (2011), em que revisaram 272 pacientes,
dos quais 39 com ST, operados com ECP. Infecção
do estimulador que obrigou sua retirada também foi relatado por Gallagher et
al, 2006.
Kuhn et al (2008) relataram um episódio maníaco como
efeito colateral de estimulação da cápsula interna e núcleo accumbens. Goethals
et al (2008) relataram um caso de dissociação durante estimulação talâmica
direita.
Idris et al relataram um caso de hematomas
intracerebrais após ECP em um paciente
com ST que possuía uma discrasia sanguínea (distúrbio do fator XIIIA).
Maciunas et al (2007) também relatou grande melhora
em 3 de 5 casos com estimulação talâmica bilateral. Embora esse alvo tenha sido
relatado com sucesso, foi relatado retornos dos tiques e psicose aguda e em
outro estudo um caso de paralisia do olhar vertical devido a hemorragia após o
procedimento (Ackermans et al, 2007).
Conclusão
A ECP tem sido exitosa na melhora dos tiques, em uma
média de 60%. Alguns estudos relatam que a opinião dos médicos e dos pacientes não
coincide. Existem vários relatos de sequelas, complicações
infeciosas e em alguns casos, desistência do procedimento com retirada dos
eletrodos. A maioria dos relatos é de casos ou séries de casos. Faltam estudos
com maiores amostras, duplo-cegos, aleatorizados e com longos períodos de
seguimento. A maioria dos pacientes continua necessitando de medicamentos após
o procedimento. Ainda há consenso sobre a escolha de pacientes ideais para cada
tipo de procedimento (alvo a ser estimulado dependendo do tipo de sintoma
apresentado). O sucesso do procedimento depende da experiência de uma equipe
multidisciplinar que inclui neurocirurgião, psiquiatra e psicólogo. A síndrome de Tourette é complexa e
há muitas comorbidades como THDA, TOC, comportamentos automutilatórios, depressão
e ansiedade. Embora a ECP pareça promissora, estamos ainda no início do seu
conhecimento na ST e mais estudos são necessários. Os critérios de inclusão, ou
seja quando considerar um paciente refratário ao tratamento medicamentoso,
também deve ser bem estabelecido, para que não se operem pacientes sem
necessidade. A cirurgia ainda é considerada experimental e não é oferecida no
SUS. No Brasil há clinicas particulares que a oferecem, mas na ausência de
protocolos claros de indicação cirúrgica e dada a ausência de relatos formais
(em publicações cientificas) não sabemos quais procedimentos estão sendo feitos
nem qual o grau de resposta. Assim, no Brasil, os pacientes carecem de informação
segura sobre o procedimento, suas taxas de sucesso e prognóstico. O Conselho Federal de Medicina acaba de publicar normas para a realização de psicocirurgias. Vou publicar um post sobre isso a seguir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário