terça-feira, 23 de agosto de 2011

Novo ambulatório para síndrome de Tourette no IPQ- HC- FMUSP


Estamos iniciando um ambulatório para atendimento da síndrome de
Tourette na infância e adolescência.

O atendimento será realizado nas segundas-feiras, das 10 às 13h, a
partir de 29 de agosto, no ambulatório de Psiquiatria Infantil do
HC-IPQ- FMUSP.

idade dos pacientes: até 17 anos.

Para marcar: a pré-triagem será feita pelo registro do HC: fone (11) 2661-6440. Os casos que passarem por essa triagem serão agendados para consulta com Dra Ana Hounie e/ou sua equipe. Os casos que forem
encaminhados pela psicóloga Sonia Borcatto, do PROTOC, não precisam de
triagem telefônica, pois já estarão triados por ela.
Perguntas/ orientação para a pré-triagem :
O que é a síndrome de Tourette?
É a presença de tiques motores e vocais.

O que são tiques?
Tiques ou cacoetes são movimentos rápidos e bruscos, difíceis
de serem controlados. Em geral começam na infância. Se os tiques
começaram há mais de um ano e atrapalham a vida do indivíduo, pode ser
necessária uma avaliação para ver se há indicação de tratamento.

Exemplos:
Tiques mais comuns
1) Motores
Simples:
 piscar os olhos
virar a cabeça
rodar ou levantar os ombros
caretas e movimento de torção do nariz e boca
trincar os dentes
chutar
gestos com as mãos, obscenos ou agressivos (se bater ou se beliscar)
Complexos:
gestos faciais ou morder os lábios
estiramento da língua
bater palmas
atirar objetos
empurrar
tocar ou bater em partes do corpo
pular, bater o pé, rodar ao andar, girar e retorcer-se
lamber mãos, dedos ou objetos,
escrever a mesma letra ou palavra
retroceder sobre os próprios passos
2) Vocais
Simples:
coçar a garganta
fungar ou cuspir
cacarejar, latir, grunhir e uivar
roncar, chiar, apitar, gritar, gemer e assobiar
Complexos:
Mudança brusca no ritmo ou no volume da fala
Expressões obscenas -palavrões (coprolalia), repetir a mesma palavra várias vezes (palilalia) ou repetir palavras que outros disseram (ecolalia)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Tourette no Zero Hora

Bem-estar | 07/08/2011 | 08h11min

Tiques: por trás de gestos repetitivos e cacoetes pode estar uma doença crônica

Conheça as histórias de quem conseguiu superar o problema

Kamila Almeida | kamila.almeida@zerohora.com.br
A estranheza que os gestos e as falas de Paula causavam nas pessoas fez com que a gaúcha de 31 anos vivesse dois anos saindo de casa apenas para o essencial. Os tiques que tanto envergonhavam a mulher, que pediu para ter o nome verdadeiro preservado, apareceram pela primeira vez aos 19 anos, com um piscar de olhos excessivo. A medicação indicada teve efeito inverso. Surgiram espasmos nos braços e nas pernas e alterações vocais. Os trejeitos nem incomodavam tanto a jovem, não fosse os olhares preconceituosos que a cercavam.

— É comum me perguntarem na rua se preciso de ajuda. Aprendi a conviver e nem ligo mais. Meus pais pediam para eu me acalmar, porque achavam que era ansiedade. Meu ex-marido insistia para eu me controlar em locais públicos — desabafa Paula,que se indignava em ter de repetir que não fazia caretas e emitia ruídos por vontade própria ou nervosismo.

Até Paula encontrar um diagnóstico correto, se passaram seis anos. Em 2005, recebeu o diagnóstico de Síndrome de Tourette. Já tomou 30 tipos de remédios, mas não está curada.

O problema de Paula atinge 1% da população e pode ter várias classificações. Mas esse número pode ser maior: só os casos mais graves são contabilizados, quando os pacientes procuram ajuda médica. A coordenadora do Departamento Científico do Transtorno do Movimento da Academia Brasileira de Neurologia, Vanderci Borges, lança um desafio:

— É comum conhecermos alguém que faz gestos repetitivos, que podem ser motores, como um balançar de cabeça ou um piscar de olhos constante, ou vocais, como pigarrear ou repetir palavras — destaca a especialista.

Os tiques tendem a ser mais prejudiciais pelo preconceito que a rodeia do que pelos sintomas em si. A psiquiatra Ana Hounie, autora do livro Tiques, Cacoetes, Síndrome de Tourette, um manual para pacientes, seus familiares, educadores e profissionais de saúde (Artmed, 2005) destaca que, apesar de corriqueira,ainda é pouco entendida pela população:

— A expressão tique nervoso é mentirosa. A ansiedade aumenta os ataques, mas alguém não começa a ter tiques depois de um forte estresse se já não tiver a doença no seu DNA — avalia.

Doença ainda obscura para a ciência, os tiques são desencadeados pela produção excessiva de dopamina, um dos principais neurotransmissores cerebrais. Essa disfunção pode ser desencadeada na infância, por infecções, ou mesmo com o uso de substâncias psicoativas, como a cocaína, mas depende de pré-disposição genética. Ainda não existe um medicamento específico para conter as crises. Drogas para doenças psicológicas e  anti-hipertensivos são algumas alternativas.Como quanto maior a potência do medicamento, mais chances de efeitos colaterais, recomenda-se que eles só sejam receitados quando a convivência social do paciente e a autoestima estiverem abaladas.

— O melhor remédio é orientar quem cerca a pessoa, principalmente na fase escolar para evitar que a criança seja vítima de bullying — diz o coordenador do ambulatório de Distúrbios do Movimento do Hospital São Lucas da PUCRS, André Dalbem.

Afastando o preconceito
Não tem outro jeito de reverter o preconceito senão entender a doença. Até no Aurélio, dicionário da língua portuguesa, o primeiro significado que aparece para tique é “hábito ridículo”. Neurologistas e psiquiatras explicam  que não se trata de um costume, mas sim de uma disfunção de uma área cerebral responsável pelos movimentos.

— Ele tem uma lógica funcional. O que o torna anormal é a repetição frequente. A pessoa até consegue se  controlar, mas há uma necessidade imensa que faz com que ela se solte e faça os movimentos em maior quantidade — diz Carlos Mello Rieder, coordenador do Ambulatório dos Distúrbios do Movimento do Hospital de Clínicas da Capital.

O analista de sistemas Rafael Ligocki Silva, 31 anos, é portador da Síndrome de Tourette e nem se importa com o que os outros pensam. Sempre que pode esclarece sobre a doença que o acompanha desde os 13 anos. Como os tiques podem ir mudando e amenizando com o tempo, há três anos Rafael apresenta sinais bem leves: torce o pescoço vez ou outra e realiza movimentos com os pés e tosse constantemente.


Rafael tem Síndrome de Tourette, mas convive bem com o problema
Foto: Tadeu Vilani

Rafael é funcionário público e trabalha em um local bastante silencioso. Sabe que sua tosse pode incomodar as pessoas ao redor e já virou alvo de piadinhas. Na última campanha da empresa contra a tuberculose, dezenas de panfletos foram parar na mesa dele. Estão sempre dizendo: “tu tens que ver o que é essa tosse. Não pode ser normal”. Ele agradece, dizendo que é uma alergia.

— Não é que eu tenha vergonha. Só acho chato explicar toda hora o que eu tenho. E quando você fala que tem uma síndrome, as pessoas já te olham atravessado. Eu até me divirto com isso.

Tiques mais comuns
1) Motores

Simples:
> piscar os olhos
> virar a cabeça
> rodar ou levantar os ombros
> caretas e movimento de torção do nariz e boca
> trincar os dentes
> chutar
> gestos com as mãos, obscenos ou agressivos (se bater ou se beliscar)

Complexos:
> gestos faciais ou morder os lábios
> estiramento da língua
> bater palmas
> atirar objetos
> empurrar
> tocar ou bater em partes do corpo
> pular, bater o pé, rodar ao andar, girar e retorcer-se
> lamber mãos, dedos ou objetos,
> escrever a mesma letra ou palavra
> retroceder sobre os próprios passos

2) Vocais

Simples:
> coçar a garganta
> fungar ou cuspir
> cacarejar, latir, grunhir e uivar
> roncar, chiar, apitar, gritar, gemer e assobiar

Complexos:

> Mudança brusca no ritmo ou no volume da fala
> Expressões obscenas (coprolalia), repetir a mesma palavra várias vezes (palilalia) ou repetir palavras que outros disseram (ecolalia)
> Bloqueio da fala

Classificação
> Transitório: vocal ou motor, simples ou complexo, cuja duração não pode passar de três meses

> Crônico: podem ser motores ou vocais e duram mais de um ano

> Síndrome de Tourette: apresenta tiques motores e vocais, com duração de mais de um ano.

Causas
> Genéticas – A prevalência dos tiques na população é de 1%, mas quando uma pessoa da família é portadora, a chance entre os pares aumenta para 10% e para 70% entre irmãos gêmeos.

> Substâncias – Anfetaminas, cocaína, anticonvulsivantes e antipsicóticos e remédios que agem como estimulantes do sistema nervoso central, como as drogas usadas para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade.

> Problemas do desenvolvimento – Retardo mental, anormalidades cromossômicas ou autismo.

domingo, 7 de agosto de 2011

O que é Tourette refratário?


Existe  a necessidade de definir o que é Tourette refratário ao tratamento, já que os casos refratários teriam indicação de ser tratados com terapias alternativas, às vezes com maiores riscos do que aqueles decorrentes das medicações usuais.
Embora a maioria dos casos de natureza leve e os tiques não necessitem de tratamento, algumas vezes os quadros são graves e podem levar a grande sofrimento pessoal e dificuldades de convívio social e de aprendizagem.
A estimulação cerebral profunda (ECP) é uma técnica invasiva em que eletrodos são implantado s  no cérebro e controlados por um marca-passo. Há relatos de melhora dos tiques da síndrome de Tourette com essa técnica, mas os seus riscos e seu alto custo implicam avaliação cuidadosa na indicação do procedimento.
Autores italianos (http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3112313/pdf/fnint-05-00022.pdf ) propuseram os seguintes critérios para indicar a ECP para o tratamento da ST:
Acompanhamento por um mínimo de 2 anos, em que foram tentadas as seguintes medicações sem sucesso: a) dois antipsicóticos típicos ou atípicos; b) dois depletores de catecolaminas; c) dos ISRS.
                Eu acrescentaria psicoterapia e pelo menos dois ou três tratamentos medicamentosos não tradicionais, incluindo acupuntura e reversão de hábito. Seguindo o princípio do primum non nocere, é preferível gastar um pouco mais de tempo tentando tratamentos mais seguros, ainda que experimentais ou que tenham sido relatados apenas em estudos de caso, do que submeter um paciente aos riscos de um procedimento invasivo que potenciais efeitos colaterais.


Riscos do uso de antipsicóticos atípicos para a síndrome de Tourette. Fale com seu médico sobre acompanhamento e alternativas.

Pediatr Neurol. 2010 Jul;43(1):17-20.

Complications of antipsychotic therapy in children with tourette syndrome.

Source

Department of Clinical Neurosciences and Pediatrics, University of Calgary, Calgary, Alberta, Canada. tmprings@ucalgary.ca

Abstract

Antipsychotics are effective at suppressing tics in Tourette syndrome, but can cause side effects. At a single center, all children with Tourette syndrome requiring antipsychotics were systematically monitored for metabolic and neurologic side effects every 6 months. Seventy-three children were followed for a mean of 39.6 months. Most children were treated primarily with an atypical antipsychotic. Thirty-three of 73 children (45%) developed lipid abnormalities. Compared with population-based mean lipid values for boys, total cholesterol, low-density lipoprotein, high-density lipoprotein, and triglyceride levels were significantly higher in our male sample (P < 0.0001). Girls had significantly lower high-density lipoprotein concentrations (P = 0.0033). Thirty-six of 73 (49%) children demonstrated abnormal body mass index percentiles. The odds of having lipid abnormalities were significantly higher in children with abnormal body mass indices (odds ratio, 6.0; 95% confidence interval, 2.15-16.7; P = 0.0004). Three of 73 children developed neurologic complications. Metabolic complications of antipsychotics are common in children. These findings underscore the need to discuss benefits and risks before initiating therapy, and the importance of routinely monitoring growth and lipid profiles. Neurologic complications are uncommon, which is likely attributable to the primary use of atypical antipsychotics in this setting.

aripiprazol (Abilify) mais seguro que pimozida (Orap) no tratamento dos tiques

Neurol Sci. 2011 Jul 6. [Epub ahead of print]

Cardiovascular safety of aripiprazole and pimozide in young patients with Tourette syndrome.

Source

Section of Child Neurology, Department of Pediatrics, Catania University, Catania, Italy.

Abstract

The pharmacotherapy for tic management in Tourette syndrome (TS) relies on neuroleptics, which have been associated with electrocardiographic abnormalities, including QTc interval prolongation. This study assessed the cardiovascular safety of the newer antipsychotic aripiprazole in comparison with the neuroleptic pimozide among young patients affected by TS. Fifty patients aged 6-18 years were assigned to either pimozide (n = 25; mean daily dose 4.4 mg/die) or aripiprazole (n = 25; 5.3 mg/die) treatment for up to 24 months. All patients underwent five serial cardiovascular assessments (baseline, 6, 12, 18 and 24 months). The group treated with pimozide showed significant changes in blood pressure (decreased), QT and QTc (both prolonged). The aripiprazole group showed changes from baseline to peak values in blood pressure (increased), whilst modifications in QT and QTc were not statistically significant. At equivalent doses, aripiprazole is characterised by a safer cardiovascular profile than pimozide, being associated with a lower frequency of QTc prolongation.