Muitas crianças com ST apresentam além dos tiques, alguma comorbidade, como TOC, déficit de atenção, hiperatividade, transtornos de controle do impulso, depressão, ataques de raiva, entre outros. Assim, a convivência com uma criança com alteração no controle do próprio comportamento pode ser um desafio para os pais e outros familiares e mesmo colegas de classe ou professores. A forma como as outras pessoas reagem a esses comportamentos ou aos próprios tiques determina, ao longo do desenvolvimento, o tipo de ligação afetiva que se estabelece entre a criança e seus pais. As crianças têm em seus pais uma figura de apoio e proteção e essa relação de confiança é que promove o desenvolvimento de uma personalidade segura, independente. Essas primeiras relações na vida de uma criança determinarão se ela será um adulto seguro ou inseguro, confiante ou ansioso. Crianças que desenvolvem um perfil de apego inseguro acreditam que os outros são pessoas indisponíveis, que rejeitam ou até prejudicam e desenvolvem um medo crônico de se relacionar com os outros, por medo de abandono ou rejeição.
Um estudo que pesquisou essas relações em famílias de portadores de Tourette verificou que quanto mais as mães se estressavam e percebiam seus filhos como sendo "difíceis", maior era intensidade dos tiques em seus filhos. Torna-se importante, portanto, orientar os pais na forma como devem lidar com seus filhos , tanto em relação aos tiques, como em relação a outros comportamentos, para minimizar o sentimento de rejeição neles gerado e possibilitar um desenvolvimento mais saudável para formar adultos seguros e independentes.
A terapia de Orientação Parental objetiva isso. Em se tratando de crianças, trabalhar os pais é fundamental.
O transtorno obsessivo-compulsivo(TOC) afeta até 2% da população geral e a síndrome de Tourette(ST),1%. Encontrem aqui dados interessantes sobre os dois. Espero contribuir para a sua divulgação. (Ana Hounie é Psiquiatra. Doutora em Ciências pela Faculdade de Medicina da USP de São Paulo. Ex-Supervisora do ambulatório de TOC e ST na Unidade de Psiquiatria da Infância e Adolescência (UPIA- UNIFESP). Colabora com o PROTOC -HC FMUSP. Tem livros e artigos científicos publicados sobre o assunto.