quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Simpósio sobre Medicalização

Medicalização é um neologismo. Neologismo é uma palavra inventada quando não existe nenhuma outra no léxico que expresse a ideia que se quer veicular. Assim, nasceu o termo medicalização. Infelizmente,  já nasceu imbuído de preconceito. Como psicologização. Psicologizar é atribuir motivações psicológicas a atos provenientes de outras esferas.  Paralelamente, medicalizar seria atribuir características de doença a comportamentos que não seriam doenças. É lamentável que medicalizar tenha se tornado sinônimo de  dar medicamentos sem necessidade, seja para robotizar , dopar, alienar ou manipular as pessoas; para aumentar a venda da indústria farmacêutica; para evitar que os problemas sejam tratados com "profundidade", pois somente uma psicoterapia seria capaz de abordar os problemas de modo profundo. 
Nós médicos tratamos de pessoas com doenças, com sofrimento psicológico, com interferência em suas capacidades produtivas e de usufruírem de lazer.  Dentre nossas ferramentas terapêuticas , temos a medicação. Medicar e Medicalizar são termos diferentes.  É importante saber distinguir os termos e os fatos.  

Para abordar este tema, haverá um simpósio. O simpósio contará com médicos, psiquiatras, psicólogos, pacientes e outros profissionais que debaterão o tema, refletindo sobre o lugar do médico e das equipes de saúde na Rede Pública e na Sociedade. O nosso discurso é baseado em dados científicos e amparado na prática clínica.  Queremos que o ato psiquiátrico e psicológico seja entendido na sua pureza, livre de preconceitos e ideologismos. 

Convidamos para o simpósio Medicalização:
É ABERTO A PROFISSIONAIS, A LEIGOS, A PACIENTES, A INTERESSADOS E SIMPATIZANTES!

INSCRIÇÕES ABERTAS DO SIMPÓSIO!
MEDICALIZAÇÃO: 
CONCEITOS, QUESTIONAMENTOS E REFLEXÕES.
VAMOS PENSAR JUNTOS?


Público Alvo: profissionais e estudantes 
das áreas de saúde e educação.
Investimento* profissionais ( R$90 ) e estudantes ( R$50 ). 
*Descontos especiais para turmas instituições de 
saúde e/ou educação até dia 10/09/14.

Inscrições:  www.cesmia.com  ou 
http://phpu.unifesp.br/acad/siex/index.htm  -  no link "Medicalização"

Contato: lucia.upia@gmail.com   

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Sobre a morte de Robbin Williams- e sobre a doença mental

Meu marido Beto Moraes traduziu um artigo que comenta sobre o recente suicídio de Robin Williams, que aparentemente tinha transtorno bipolar do humor.
clique aqui para ver o original

Vamos levar a doença mental a sério
Mark Shapiro

O suicídio recente de Robin Williams sacudiu as pessoas de todo o espectro político — e não  sem motivo. Quando uma figura pública incrivelmente popular e bem-sucedida de nossa cultura decide tirar sua própria vida, fica a sensação de que o suicídio pode acometer qualquer pessoa. Na verdade, não pode.
Robin Williams sofria de uma doença mental, declaradamente. Durante uma entrevista em 2006 ele disse que não tinha sido formalmente diagnosticado com depressão ou transtorno bipolar, mas falou, “Às vezes atuo de uma forma maníaca? Sim. Estou em mania o tempo todo? Não. Eu fico triste? Ôpa, se fico. É duro para mim? Sim, é. “ E acrescentou, “Fico bêbado, como muitos de nós ficamos às vezes. Você olha para o mundo e pensa, ‘ôpa, pode parar’. Outras vezes você olha e diz, ‘Oh, as coisas estão ok.’” De acordo com o Huffington Post, no mesmo ano ele explicou a tentação do alcoolismo — para Diane Sawyer. “É a mesma voz do pensamento que... quando você está à beira do precipício e olha para baixo, existe uma voz, uma voz bem baixinha que diz. “Pule.’”
A morte de Robin Williams estimulou vários escritores e celebridades a anunciar suas próprias lutas com estes problemas; quase toda família já sofreu os horrores de uma doença mental. Meu avô foi diagnosticado como bipolar [transtorno bipolar do humor] décadas atrás, e lutou contra ideações suicidas rotineiramente até ser medicado  com lítio.
Aumentar a conscientização é louvável — o estigma que se impregnou à busca de ajuda para doença mental deve ser eliminado o mais rápido possível.

Do mesmo modo devemos deixar claro que a normalização da doença mental não ajuda ninguém e prejudica aqueles que estão verdadeiramente doentes. A falta de compreensão e consciência a respeito da doença mental nos chega desde duas vertentes de opinião: primeiro, daqueles que acham que a doença mental significa falta de dedicação e de força de vontade; segundo, daqueles que acham que uma grave doença mental não é de maneira alguma uma doença mental, mas representações de comportamentos e pensamentos livres.

Quarenta anos atrás, o primeiro grupo predominava; hoje, o segundo é dominante.

Há 40 anos, homens e mulheres temiam a destruição da carreira profissional se os  rumores sobre o fato deles estarem se consultando com psiquiatras se espalhasse. Em grande medida, aquele medo dissipou-se. Mas uma nova ameaça para o bem-estar daqueles que sofrem de uma doença mental substituiu o constrangimento original: a ameaça do batalhão dos defensores [contrários ao tratamento psiquiátrico] que acabam por deixar quem tem uma doença mental sofrer em nome da heterogeneidade.

Isto [ser contra esta ameaça] não significa sugerir que todos os que são “diferentes” são mentalmente doentes ou vice-versa. Mas quer dizer sim que devemos considerar a doença mental no caso dos sem-teto em vez de rotulá-los de defensores do espaço público, em uma versão que tem o seu próprio modo de se vestir. É afirmar também que aqueles que têm transtorno disfórico de gênero não devem sofrer  a intolerância da sociedade e que a mutilação física e a gritaria pró-tolerância não vão resolver os seus problemas.

Em outras palavras, se quisermos reconhecer, como sociedade,  a importância da doença mental, o progressista [the left] deve parar de fazer dissertações sobre doença mental com platitudes sobre diversidade, e o conservador [the right] deve parar de tratar a doença mental como um problema moral e não como um caso médico. Aqueles arrasados pela angústia mental estão gritando por ajuda. Se não os escutamos, talvez seja porque estejamos muito ocupados em impor nossos pontos de vista políticos em vez de escutarmos.